9 Julho 2025

Mistérios do Universo: Anãs Escuras e o Objeto Interestelar 3I/ATLAS Podem Revelar os Segredos da Matéria Escura

Novas pistas surgem no coração da Via Láctea

Um novo estudo liderado por cientistas do Reino Unido e do Havaí está propondo uma teoria intrigante sobre a origem e o comportamento da matéria escura — uma das maiores incógnitas da cosmologia moderna. A hipótese sugere que objetos celestes ainda não detectados, chamados “anãs escuras”, podem estar ocultos no centro da Via Láctea e seriam alimentados por matéria escura. Esses corpos podem fornecer uma chave crucial para compreendermos o que constitui os 25% do universo que não brilham nem interagem com a luz, mas que influenciam gravidade e estrutura cósmica.

O artigo, publicado no Journal of Cosmology and Astroparticle Physics com o título Dark Dwarfs: Dark Matter-Powered Sub-Stellar Objects Awaiting Discovery at the Galactic Center, propõe a existência dessas anãs escuras como subprodutos da interação entre matéria escura e anãs marrons — objetos subestelares que não conseguem iniciar a fusão nuclear, como fazem estrelas comuns.

Anãs escuras: alimentadas pela matéria invisível

O professor Jeremy Sakstein, da Universidade do Havaí, explica que estrelas normais brilham devido à fusão nuclear em seus núcleos, enquanto anãs marrons emitem apenas luz fraca oriunda de sua contração gravitacional. No entanto, se essas anãs marrons estiverem em regiões densas em matéria escura, como o centro da galáxia, elas podem capturar essas partículas e gerar calor por meio da aniquilação mútua das mesmas. Isso criaria uma fonte de energia alternativa — e invisível — que transformaria essas anãs marrons em “anãs escuras”.

Essas descobertas não apenas levantam novas questões sobre o ciclo de vida estelar, mas também apontam caminhos para detectar indiretamente a presença da matéria escura, cuja natureza segue sendo uma das maiores lacunas do nosso conhecimento astronômico.

Um visitante interestelar entra em cena

Enquanto os cientistas investigam mistérios no centro galáctico, outro fenômeno raro acaba de ser observado mais próximo da Terra. Astrônomos confirmaram a chegada do terceiro objeto interestelar já detectado no nosso Sistema Solar. Batizado de 3I/ATLAS, ele foi observado em 1º de julho de 2025 por um telescópio do projeto ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System) no Chile.

O nome 3I significa “terceiro interestelar”, e sua designação oficial é C/2025 N1 (ATLAS). A descoberta ganhou destaque pela sua trajetória extremamente hiperbólica, com excentricidade de 6,2 — um número muito acima do necessário para que o objeto escape da gravidade solar. Isso confirma que ele vem de fora do Sistema Solar, assim como seus antecessores: 1I/’Oumuamua (2017) e 2I/Borisov (2019).

O maior e mais brilhante objeto interestelar já observado

Segundo o astrônomo Mark Norris, da Universidade de Central Lancashire, o 3I/ATLAS não é apenas o mais recente, mas também o maior e mais brilhante objeto interestelar conhecido até agora. Isso faz dele uma oportunidade única para estudar materiais e formações de outros sistemas estelares, além de reforçar a ideia de que visitantes cósmicos desse tipo podem ser mais comuns do que se imaginava.

Olivier Hainaut, do Observatório Europeu do Sul, reforça a natureza interestelar do 3I/ATLAS ao explicar que sua órbita já é hiperbólica no momento em que entra no Sistema Solar — algo que diferencia esse objeto de cometas de longo período, cujas órbitas podem se tornar hiperbólicas apenas após interações com Júpiter.

Um elo possível entre as duas descobertas

Embora tratem de fenômenos distintos — um enraizado no centro da nossa galáxia e outro vindo de fora do Sistema Solar — as descobertas sobre as anãs escuras e o 3I/ATLAS têm um ponto em comum: ambas oferecem novas formas de estudar a matéria escura e a formação de corpos celestes. Enquanto as anãs escuras poderiam ser laboratórios naturais de interação da matéria escura, o 3I/ATLAS pode carregar material interestelar primitivo que ajude a traçar a evolução do cosmos.

Com tecnologias cada vez mais avançadas e observações mais precisas, a ciência pode estar prestes a atravessar o véu que cobre a matéria escura — e talvez, em breve, possamos finalmente compreendê-la.